1 de dezembro, a história de um feriado que mete espanhóis

EM DIA DA RESTAURAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA, IMPORTA PERCEBER, AFINAL, SE "FOMOS OU NÃO FOMOS ESPANHÓIS" DURANTE 60 ANOS


Passámos aos oitavos-de-final no mundial 2022, é certo, e a nossa portugalidade está ao rubro também por isto.


Acontece que dia 1 de dezembro é indubitavelmente aquele dia em que nos inflamam os corações lusitanos e regozijamos de pátria e de Portugal ao ponto de nos apetecer dizer “às armas às armas”, durante todo o dia.


Isto porque, no dia 1 de dezembro de 1640, restaurámos a nossa independência, já que desde 1580, por uns longos 60 anos, três reis espanhóis reinaram no nosso país, após a morte de D. Sebastião, na Batalha de Alcácer-Quibir, sem deixar descendência direta.


Sucede, porém, que parece que não fomos espanhóis durante os ditos 60 anos.

Afinal, foi uma única monarquia, mas duas coroas distintas! A coroa portuguesa e a coroa espanhola.

Portugal manteve a sua própria língua, os costumes, um grande conjunto de entidades e leis próprias e também um exército português.


Até os reis se chamaram, diferentemente, Filipe I de Portugal e II de Espanha, Filipe II de Portugal e III de Espanha e Filipe III de Portugal e IV de Espanha.

Dito isto, vamos esmiuçar a coisa!




Filipe II de Espanha era neto do nosso rei D. Manuel I e tinha todo o direito ao trono português, porque com a morte de D. Sebastião, Filipe II era o descendente direto. Corria-lhe sangue português nas veias e gostava de Portugal. Chegou mesmo a dizer «quem não conhece Lisboa, não viu coisa boa» e quando veio à cidade, fê-lo com a pompa e a circunstância que a capital de um grande império exigia e merecia.

Lisboa era, nesta altura, uma espécie de Roma, no centro do mundo. Era uma cidade agitada, onde chegava tudo de todo o lado, do vastíssimo império que tínhamos criado, conquistado e divulgado.


Filipe II percebeu rapidamente que lhe seria impossível mandar e controlar Portugal se não tivesse o apoio dos nobres. E foi exatamente isso que fez. Do lado dos portugueses, havia também interesse nisto.


Então, nas cortes de Tomar, de 1581, a nobreza e o clero portugueses conseguiram o estatuto especial para Portugal: o de reino com um governo diferente dos governos dos reinos conquistados.


Foi, assim, neste Pacto de Tomar, acordada a autonomia de Portugal dentro da monarquia hispânica! Da nobreza e do clero saiu um conselho de governadores exclusivamente composto por portugueses para governar Portugal.



Portugal manteve, desta forma, uma grande autonomia em relação a Espanha , durante estes 60 anos.


Só quando Filipe III de Portugal, IV de Espanha, quis impor uma verdadeira e real união ibérica, é que os portugueses começaram a demonstrar um grande desconforto.

Nesta altura, os nobres portugueses, que efetivamente governavam o nosso país, iniciaram o que veio a ser, no dia 1 de dezembro de 1640, a restauração da independência.


Chamaram-se os conjurados pela conjura que levaram a cabo. Afinal, estes tinham a confiança do rei de Espanha, para aqui governar, e eram pagos pela coroa espanhola. Conspiraram e ganharam, colocando no trono o duque de Bragança, D. João, futuro D. João IV.


Portugal voltou a ser totalmente independente, dia 1 de dezembro de 1640, há 381 anos!